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Ele fez aquilo que é o mais arriscado e perigoso: aproximar mais a Igreja do Evangelho de Jesus Cristo
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O Papa que deu lugar a Jesus Cristo

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O Papa que deu lugar a Jesus Cristo: Você saiu quase silenciosamente, assim como entrou na Basílica de São Pedro para governar a Igreja, sem vestes religiosas de luxo, com uma saudação simples e amigável e um sorriso, sem carro de luxo, sem sapatilhas vermelhas e com um quarto comum de padre. Você desceu do trono papal para estar perto dos fracos e pregar o Evangelho. Portanto, antes de você partir em meio a este calvário em Gaza, trago-lhe quinze ações de graças

1. Obrigado por ser “um ser humano”. Parece óbvio, mas não é tão óbvio assim. Você deixou o papa intocável para trás. Não aquele com a tiara, a cadeira gestacional e o “nós”, felizmente rejeitada pelos seus antecessores. Sem se  enclausurar noterceiro andar [aposentos oficiais do papa], às vezes inacessível, que falava sem ouvir, caminhava sem pisar a rua, pregava com tanta confiança que parecia fazê-lo quase sempre ex cathedra e parecia-se mais com o pontífice do que com o padre.

2. Porquevocê pregou para o povo. Você aproximou a linguagem de suas cartas e sermões com terminologia acessível aos homens e mulheres do nosso tempo, de modo que “você é compreendido até demais”. “Ele é argentino”, dizem, “ele fala e fala”. Não reclamávamos do papa esfinge, o intelectual que não podia ser compreendido? Obrigado, porque você não fala apenas como a mamãe, o vovô ou o cara da esquina e todo mundo lhe entende, mas você até criou linguagem, neologismos e seu próprio gênero literário para despertar as pessoas do seu sono digital. 

3. Seus melhores amigos foram os pobres. Você dedicou seus parágrafos e ações mais ousados, afetuosos e corajosos a eles, correndo o risco de ser rotulado de “marxista”, “populista”, “peronista” e outras bobagens do tipo. Por apostar nos explorados, nos excluídos, nos imigrantes, nos marginalizados, nos sem-teto, nos últimos desta sociedade injusta, tendo como código de conduta o melhor e o mais ousado de todos, as bem-aventuranças de Jesus. E também para as mulheres, tomando algumas medidas para promovê-las em algumas posições na Igreja.

4. Por cuidar do planeta, por meio de suas encíclicas e documentos pastorais, quando as evidências das mudanças climáticas estão fora de questão e os trustes e oligopólios do mundo de hoje continuam a se concentrar exclusivamente no ganho material, acumulando os “celeiros” [cf. Lc 12,13-21] de alguns, enquanto o planeta se deteriora. Porque o nosso mundo também é um sacramento.

5. Por nos ensinar a rir e a sorrir, nos mostrando o caminho da eutrapelia [modo de gracejar sem ofender; zombaria inocente], a alegria de viver; porque pela fé sabemos que esta vida tem sentido e esperança diante de todos os medos e ansiedades dos freqüentes profetas de calamidades. 

6. Por condenar a violência e as guerras, sem subterfúgios geopolíticos ou diplomáticos, condenando todas as formas de uso e gasto injusto de armas, venham de onde vierem, e mesmo que alguns o ataquem por essa denúncia.

7. Pelos seus esforços para livrar a sua Igreja dos flagelos, sejam eles provenientes da economia ou da moralidade sexual, como demonstrou de forma drástica e direta no esforço para erradicar a pedofilia e os escândalos financeiros do Vaticano.

8. Por enfrentar a Cúria Vaticana e o poder clerical, e lutar para erradicar sua corrupção, denunciando-a publicamente, sem medo de seuslobbies de poder e influências, ou excluindo o despotismo clerical orgulhoso, essas medidas foram as que possivelmente despertaram as maiores rebeliões de cardeais e críticas internas. 

9. Pela sinodalidade e a descentralização da Igreja, a melhor maneira de enfrentar o centralismo e fazer participar a periferia, um caminho íngreme e difícil de empreender, no qual ainda há muito a percorrer, pois sem um primeiro passo nenhuma viagem se inicia.

10. Pela tolerância à pesquisa teológica, ao pluralismo de pensamento, ensino, imprensa e expressão na Igreja, após muitos anos de “mordaça” e regressão. Mesmo quando a crítica é direcionada a você mesmo.

11. Pela abertura aos outros— membros de outras religiões, judeus, muçulmanos, irmãos separados, agnósticos e ateus — sem complexos de superioridade, ciente de que ninguém tem uma verdade absoluta e todos podemos aprender. Principalmente pela sua proximidade com os jovens, aceitando-os como são, oferecendo-lhes, nunca impondo-lhes. A caridade acima da ortodoxia. 

12. Por sua bênção aos gays, porque, sem dirimir teologicamente a sacramentalidade de suas uniões, você lhes diz que Deus os ama, que você os ama, que não os julga (“e vocês não serão julgados”) e que ninguém tem o direito de anulá-los na vida por serem quem são ou como se sentem. Porque a missão da Igreja é a do Bom Pastor e do Bom Samaritano, não a de bater ou excluir ovelhas que não gostamos com um cajado limpo. Algo semelhante deve ser dito sobre a comunhão dos divorciados.

13. Por não se identificar com a infalibilidade. Pois, sem negar essa prerrogativa papal, você não a exerceu, até onde sei, explicitamente até agora e, sobretudo, não a pratica cotidianamente com a ambiguidade de considerar que tudo o que diz é infalível. Além disso, você aceitou em diversas declarações algo incomum para um papa, que às vezes você se equivoca!

14. Por ser jesuíta, não jesuítico. Por não renunciar ao carisma de Inácio [de Loyola], aos Exercícios Espirituais e à grande herança da Companhia, que você demonstra através de sua excelente formação, espiritualidade e prática de discernimento. Mas sem o “jesuitismo” exclusivo, sibilino ou aristocrático da lenda, sendo um papa de todos, aberto a todos os carismas, com predileção pela simplicidade e pelo amor às criaturas do santo de seu nome, o de Assis. Com uma única “intransigência”: contra o sectarismo e a imobilidade na Igreja.

15. Mas acima de tudo pelo seu gosto pelo Evangelho. Quando me perguntam se você foi um papa progressista ou conservador, sempre opto por uma resposta: nem um nem outro. Você foi um papa evangélico.

Isso é progresso ou não? Cada um responda. Mudou a Igreja com grandes reformas? Ele tentou, da melhor maneira que pôde e até onde lhe permitiram,  aproximá-la mais de Jesus . Essa é a coisa mais arriscada que se pode fazer, pois pode provocar ódio e amor ou seguidores ao mesmo tempo.

Ele fez um ato tão revolucionário quanto remover o Papa do centro, deixando Jesus lá.

 

Traduzido do espanhol e editado por
Pe.
Fonte: El Independiente – Opinión
– Terça-feira, 22 de abril de 2025
– Internet: clique aqui
– Acesso em: 23/05/2025.

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